Planos de saúde acumulam alta de quase 400% em uma década
Os planos de saúde coletivos registram aumentos acumulados que superam em quatro vezes a inflação geral nos últimos dez anos. Entre 2015 e 2025, os reajustes nos contratos coletivos por adesão e empresariais alcançaram 383,5%. No mesmo período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 84%, e os planos individuais variaram 146,48%.
O setor atende 53 milhões de beneficiários em planos médico-hospitalares, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o equivalente a 25% da população brasileira, que atualmente é de 213,4 milhões de habitantes. Essa cobertura se mantém estável em relação a 2015, apesar de adições recentes de cerca de 4 milhões de contratos desde 2020.
Os reajustes elevados afetam diretamente 83% dos beneficiários (44.397.575) por meio de planos coletivos por adesão e empresariais, que não são regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). "A maior parte dos contratos comercializados atualmente são os coletivos, cujos reajustes escapam do controle automático da ANS", afirma o advogado especialista em planos de saúde, Elton Fernandes.
Diferença entre os reajustes
Os reajustes dos planos de saúde variam conforme o tipo de contrato. Nos coletivos, o acumulado de 2015 a 2025 atingiu 383,5%. Essa modalidade inclui planos empresariais e por adesão, negociados diretamente com operadoras, sem teto regulado pela ANS.
Os planos por adesão, vinculados a entidades de classe, enfrentam reajustes acima de 25% em média nos últimos anos. Já os planos empresariais de pequenas e médias empresas (PME), que cresceram devido à ausência de oferta individual, também registraram altas de dois dígitos, com projeções de 15% para 2025.
Nos planos individuais e familiares, regulados pela ANS, o cenário é mais controlado. O teto para maio de 2025 a abril de 2026 é de 6,06%, aplicável a 8,6 milhões de beneficiários, ou 16,4% do total. Esse índice resulta da combinação entre a variação de despesas assistenciais (9,35% em 2024) e o IPCA sem subitem de planos (4,83%). Comparado a 2024, quando o limite foi de 6,91%, há uma redução de 0,85 ponto percentual.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) de 2023 mostrou que os reajustes coletivos foram até duas vezes maiores que os individuais entre 2017 e 2022. O advogado especialista em reajuste de plano de saúde, Elton Fernandes, ressalta que essa disparidade decorre da regulação. Enquanto a ANS limita o aumento dos contratos individuais e familiares, os coletivos dependem de negociações diretas com as operadoras.
"Hoje, as famílias contratam planos de saúde para os seus via um CNPJ e, assim, os reajustes praticados não seguem o índice da ANS. É isso o que a Justiça tem revisto, pois, nesses casos, uma das possibilidades é que o reajuste siga a regra dos contratos familiares, com reajustes inferiores", explica Elton Fernandes.
Impactos nas empresas brasileiras
Para empresas, os planos de saúde representam 15,8% da folha em 2025, contra 11,5% em 2015, segundo a consultoria Mercer Marsh, que administra carteira com 5 milhões de usuários. O custo médio subiu 215% em dez anos, indo de R$ 225,23 em 2015 para R$ 709,50 em 2025 por funcionário.
Segundo a consultoria, as empresas passaram a adotar estratégias de contenção de gastos frente ao aumento dos custos com os planos de saúde. Há dez anos, 51% cobravam dos funcionários parte do valor do convênio; em 2021, caiu para 36%, mas subiu para 55% em 2025.
A pesquisa Mercer Marsh de 2025 também mostrou que 66% das empresas redesenharam benefícios, trocando operadoras, enquanto 31% planejam isso em 12 meses. O custo corporativo deve subir 10,5% em 2025, tornando os convênios o segundo maior gasto após salários. "O aumento dos custos de um plano de saúde faz com que, em muitos casos, o valor da mensalidade seja o segundo maior gasto da empresa, logo depois do salário. Isso traz desafios para a gestão do negócio", pondera Elton Fernandes, especialista em Direito da Saúde.
Reajuste do plano de saúde 2025/2026
Um dos indicadores que influenciam os aumentos dos planos de saúde, a inflação médica no Brasil deve continuar acima da média global em 2025. Segundo um levantamento da consultoria Aon com dados de 112 países, o custo médico no país terá alta de 12,9% neste ano, 2,9 pontos percentuais acima da média global, que deve ser de 10%.
Com base nessa projeção, a Aon estimou que os reajustes dos planos empresariais e coletivos ficariam entre duas médias possíveis em 2025: 13,7% e 21,8%, conforme os critérios adotados por cada operadora, enquanto o índice ANS para planos individuais foi de 6,06% para o período de maio de 2025 a abril de 2026.
O advogado Elton Fernandes explica que beneficiários de planos coletivos podem questionar os percentuais aplicados em seus contratos. Uma das maneiras é solicitar à operadora a demonstração técnica detalhada dos critérios aplicados no cálculo do aumento. Caso a justificativa não seja clara ou proporcional, é possível buscar orientação jurídica para entender as medidas legais cabíveis.
Além disso, o advogado especialista em Direito da Saúde em São Paulo afirma que o consumidor pode avaliar a troca de plano de saúde por meio da portabilidade de carências ou realizar um downgrade, que é a mudança para uma categoria inferior de rede credenciada dentro do mesmo contrato. "A portabilidade e a redução de cobertura via downgrade podem implicar mudança de rede credenciada, ao contrário da revisão do reajuste. Contudo, é importante ao consumidor compreender seus direitos para avaliar o que é melhor para si", detalha Elton Fernandes.
